Os 07 Gatinhos ou a degradação da Família por Benemari Sulivam

23h (Onze horas) em ponto, nunca tive isso confesso, mas algo me dizia escreva, escreva, essa loucura que você quer fazer. Busco um vinho para me inspirar, não tem. A seco, vou escrever mesmo assim. O que me fez montar, querer montar os 07 Gatinhos de Nelson Rodrigues? O que me fez voltar (Coisa que não queria) ao seu universo. Era para ser apenas uma leitura, uma leitura dramática e um trabalho de desconstrução de cena, estudo, apenas isso e nada mais. Mas como se ele falasse ao meu ouvido - Vai bobo, arrisca, brinca. Você já me levou a sério demais com suas teorias e poesias demasiadas, agora quero ver do que você é capaz, me faz revirar no túmulo. Desafio aceito. Esse texto tem em seu contexto um universo dos espetáculos gregos, onde o oráculo pré destina o futuro, muitas vezes trágicos de seus heróis. Aqui na personagem de Hilda uma médium, vimos que a desgraça da família do "Seu Noronha" esta naquele homem - "Que chora por um olho só" - Palavras chaves como: "O homem vestido de virgem", "Seu fim será triste", etc... Nos remete as antigas tragédias gregas. Mas o foco principal é a degradação da família (Agora podemos apodrecer), uma família convencional, perante a sociedade, onde todos são felizes, papai, mamãe e filhinhos, mas que entre 04 paredes mostram sua verdadeira face. Quantas famílias apodrecem dentro de suas paredes... Vamos brincar então, brincar de Brecht, Millor, Stanislavisk, Teatro de Revista, Absurdo, enfim, não sei... Tenho apenas 26 anos, e sei que tenho muito ainda em que errar e em que aprender. Tomei gosto pelo risco. Mas esse desafio me instiga, levar a história dessas 05 irmãs, 04 prostitutas e 01 virgem, do tão endeusado autor de uma forma burlesca é um desafio tanto pra mim (e um risco) quanto ao grupo (estudantil, diga-se passagem). O que esperar? Nem eu sei, as cenas vão sendo entregues a cada semana. E eu vou desconstruindo e reconstruindo cenas, falas, direcionando. Não tenho grandes expectativas (E não as crio) mas confesso que minha barriga esta com borboletas a cada ensaio, a cada dia que chega. As mudanças já se percebem pelo nome "Os 07 Gatinhos - GENÉRICO) (Genérico adj. Que pertence ao gênero: característica genérica. Antôn.: individual, especial, específico. Expresso em termos vagos e indeterminados: o tema foi tratado de modo genérico.) As personagens (Exceto Bibelot, que é feito pelo ator João Guilherme Pires, são todos feitos por mulheres) Aurora é feita pela atriz mais nova do grupo, a irmã mais nova e virgem Silene, pela atriz mais velha, já contradizendo o que se esperaria em um padrão convencional de distribuição de personagens ou até mesmo das características físicas. O ambiente; um beco sem saída, idealizado em meus pensamentos, onde vivem todos os gatos abandonados, sujos e maltratados pela sociedade. Todos são gatos (Identificados facilmente pela maquiagem), com seus símbolos, signos que identificam cada um (Ex: Arlete e sua "gillete"). Um texto que mesmo com o passar dos anos, parece tão atual, mostrando a sociedade o que na maior parte procuram esconder. Em uma era em que as famílias estão se transformando fugindo do padrão elitizado e aceito (Sendo discriminado mesmo assim), e surgindo novas e diferentes formas de composição familiar. A intenção não é sensibilizar, levantar bandeiras ou criar polêmicas. O ponto principal é se divertir, esquecer um pouco da teoria e sentir prazer na prática. Deixar se arriscar, ousar, brincar. Em um tempo onde todos querem filosofar, estudar minuciosamente cada virgula de um texto, (O que acho maravilhoso, porém, alguns perdem o "T" de estar no palco, e isso é gravíssimo), resolvi neste final de 2012 brincar sem responsabilidade, ser um pouco louco, mostrar uma outra faceta. Se isso vai dar certo, não sei. São muitos os questionamentos em torno desse trabalho, mas acredito que uma voz de um certo "anjo pornográfico" me diz: Não tenha medo de ser feliz. Brinque. Estou brincando então. E vamos comemorar o centenário. Evoé Baco, Baco evoé!

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